Introdução

A ideia inicial deste projeto é associada ao sofrimento animal, foi motivada pelo curta metragem, "Salve Ralph", mas por ser um tema muito abrangente, optou-se por continuar com a ideia central, porém de forma mais específica, neste caso foi colocado em evidência o Bosque dos Jequitibás, um Parque Zoológico na cidade de Campinas, este serviu de base para desenvolver um trabalho envolvendo a ocorrência de animais silvestres na área urbana da cidade. As paisagens urbanas em todo o mundo estão se expandindo em um ritmo acelerado. Com a aceleração da urbanização irá aumentar a interação entre humanos e animais silvestres. Esta situação não só causa problemas para os animais, como para a saúde e o bem-estar humanos. Os principais efeitos desse avanço são mudanças no uso da terra, mudanças nos ciclos biogeoquímicos, mudanças climáticas, perda de biodiversidade e invasões biológicas (FIGUEIREDO, 2019). Estima-se que até 2050, 68% da população mundial viverá em espaços urbanos, sendo no Brasil cerca de 92% da população total viverá nas cidades (AGÊNCIA BRASIL, 2016). O principal bioma do Estado de São Paulo é a Mata Atlântica, na época do descobrimento do Brasil se estendia por 15% do território brasileiro, foi a primeira floresta a receber iniciativas da colonização e dela que saiu a primeira riqueza para os colonizadores, o Pau-Brasil. Desde então, vários ciclos de exploração (ouro, cana de açúcar e café) ocorreram no seu domínio. A consequência de todos esses ciclos foi a floresta ser reduzida a 8 % de sua extensão original. E nas regiões desmatadas foram surgindo centros urbanos e com isso a fauna presente na Mata Atlântica começou a interagir com a população das cidades (DEAN,1996). A cidade de Campinas é um dos principais centros urbanos do estado de São Paulo, já sendo considerada uma metrópole. Localizada em meio a Mata Atlântica, seu desmatamento começou de uma forma avassaladora há muito tempo, devido ao derrubamento de árvores em 1770 com objetivo de viabilizar o cultivo de cana de açúcar e ao crescimento muito grande da população com o objetivo de trabalhar nos canaviais. No ano de 1836, quando ocorreu o auge do ciclo açucareiro, a população, que antes era de 185 habitantes em 1767, foi para 31.397 em 1874 (SILVA, 2015, capítulo 2). Antes do desmatamento, cerca de 97% do território da cidade de Campinas era composto por Mata Atlântica, porém o percentual nos dias de hoje é de apenas 3% da mata original (SILVA, 2015). No ano de 2000 com o início do novo milênio a ONU reuniu 191 países em busca de objetivos globais comuns a serem alcançados, momento no qual foram estabelecidos os objetivos do milênio (ODM) e teria duração de 15 anos. Em 2015 uma nova conferência foi realizada e os 193 estados membros da ONU decidiram a importância de sua continuidade estabelecendo a agenda 2030 e os objetivos que eram 8 passaram a ser 17, conhecidos hoje como Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). (RAMOS, 2021). A ODS-15 é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que está relacionado à Vida Terrestre, que consiste em proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade (Portal do Governo Brasileiro, 2021). Mais especificamente, o 15.5, que trata sobre a manutenção de habitats naturais e evitar a extinção de espécies, o objetivo 15.7, o qual se refere a caça ilegal e ao tráfico de espécies, e o 15.8, que faz alusão ao impacto das espécies exóticas nos ecossistemas. Esses objetivos se entrelaçam diretamente com o projeto devido as ações de educação ambiental visarem informar a população sobre os animais silvestres presentes na área urbana e analisar os dados sobre a apreensão ilegal dos mesmos. Dados publicados no Caderno de Educação Ambiental, Fauna Urbana, volume 2 (2013), mostram que ultimamente encontros com animais silvestres nos centros urbanos têm se tornado uma coisa corriqueira, podendo ser positivos, neutros ou negativos, porém é necessário que as pessoas entendam a diferença entre fauna silvestre nativa e exótica. Os animais silvestres são as espécies nativas migratórias que se encontram dentro do território brasileiro, enquanto os exóticos estão fora de sua distribuição natural, macacos-prego, saguis e onças pardas, por exemplo, são animais silvestres muito populares e conhecidos originários da Mata Atlântica. Muitas vezes, mamíferos menores e répteis, como gambás e cobras, por exemplo, são vítimas de preconceitos. Na segunda metade do século XIX, o Parque Bosque dos Jequitibás, localizado em Campinas, pertencia a Francisco Bueno de Miranda, o bosque era uma propriedade privada que a partir de 1880, por sugestão de Dom Pedro II, foi aberto a visitações. No ano de 1915, foi vendido para a prefeitura. O bosque é um fragmento de Mata Atlântica, um dos biomas que sofreu perdas irreparáveis com a expansão da ocupação humana sobre áreas com cobertura vegetal. Anos mais tarde, foram construídos o Museu Municipal no casarão que havia dentro do bosque e o Aquário Municipal. Atualmente, o Bosque possui 10 hectares de reserva florestal nativa com várias espécies de plantas cadastradas e um zoológico com cerca de 300 espécimes de aves, répteis e mamíferos, segundo a Prefeitura Municipal de Campinas. O Bosque é um local propício para o contato das pessoas com a natureza, num ambiente urbano e é atrativo para a população, por conciliar equipamentos públicos, como o Museu, Zoológico e Espaços para alimentação e lazer (SILVA, 2015). Tombado como Monumento Natural Paisagístico do Estado de São Paulo, em 1970, pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arquitetônico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT). Em 1993, todo o conjunto do parque foi tombado também pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (CONDEPACC). A Revista CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária) , 2016 relata que no Brasil, a primeira exposição de animais data de 1880, e ocorreu no Bosque dos Jequitibás, porém apenas em 1995, o mini zoológico foi reconhecido pelo IBAMA por seu papel na educação, preservação e pesquisa ambiental. Os Centros de Triagem de Animais Silvestres não aquáticos recebem animais oriundos de resgate, apreensão ou entrega voluntária. São conhecidos como CETAS, CRAS ou CETRAS. No Estado de São Paulo 01 deles é administrado pelo IBAMA, 01 pelo governo Estadual, 04 por Prefeituras e os demais por Instituições particulares (MARQUES, 2021) Publicação da agência de Jornalismo Envolverde (2021), relata que no Estado de São Paulo existem apenas 5 Centros de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) e 9 Centros de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), esse número é muito baixo devido à grande demanda, muitas vezes a Polícia Ambiental precisa percorrer mais de 200 Km para realizar o encaminhamento de um animal resgatado. Como o município de Campinas não possui CRAS, o Bosque dos Jequitibás reabilita, na medida do possível, esses animais, normalmente vítimas de maus-tratos, agressões e acidentes. Este trabalho pretende sistematizar e analisar ocorrências de notificação de animais silvestres presentes em área urbana encaminhados ao Bosque dos Jequitibás, procurando estabelecer correlações entre os dados.

Métodos

A pesquisa tem caráter exploratório quantitativo e qualitativo. Para levantamento do referencial teórico foram utilizados artigos acadêmicos, História e caracterização do Parque Bosque dos Jequitibás presente nos acervos da Prefeitura Municipal de Campinas. A maior parte do estudo foi realizado no Parque, o que tornou possível o acesso às informações sobre a ocorrência de interações entre humanos e animais silvestres e resgate da fauna silvestre pela Polícia Ambiental através da análise dos Boletins de Ocorrência. Entrevista com o Médico Veterinário Coordenador do Parque No dia 05/08/2021 foi realizado um encontro presencial com o Coordenador do Bosque dos Jequitibás, o qual foi agendado via mensagem, para discutir sobre os animais silvestres na região. Conforme o andamento da entrevista foram surgindo perguntas, todas foram devidamente registradas e respondidas (Anexo I). Banco de Dados Para criar o banco de dados a partir das ocorrências de interações entre animais silvestres e humanos no município de Campinas será utilizado como fonte inicial os Boletins de Ocorrência registrados pela Polícia Ambiental no período de 2015 a 2021 que foram encaminhados ao Bosque dos Jequitibás. O acesso a esse material está sendo disponibilizado pelo médico veterinário coordenador do Parque, Dr. Douglas Presotto. Inicialmente foi analisado o conteúdo do Boletim de Ocorrência, seguido da elaboração de uma tabela em planilha Excel que apresenta as seguintes informações: Data (dia, mês e ano) Nº do boletim de ocorrência Grupos taxonômicos (classe, ordem, família, gênero, espécie e nome popular) Endereço (logradouro, número, bairro e município) Coordenadas geográficas (latitude e longitude) Versão da testemunha Relatório da autoridade policial Incapacidade permanente Apreensão Ilegal Destino final do animal (plantel, soltura, outra instituição, fuga e óbito) Identificação do solicitante (nome, endereço e telefone) Na versão da testemunha e no relatório de autoridade policial contém os registros dos solicitantes perante ao boletim de ocorrência, onde são colocados os principais fatos do ocorrido como, situação do animal, motivo do resgate ou solicitação, situação que o animal se encontrava e alguns dados do chamado. Com a conclusão do banco de dados, foi feita a tabulação das informações coletadas, estabelecendo correlações entre eles. Participação no Treinamento do Bombeiro Civil sobre Resgate de Animais Silvestres No dia 25 de setembro de 2021, às 9h da manhã, o bombeiro Queiroz deu um treinamento básico sobre como resgatar animais encontrados na cidade, em casos de estarem presos em armadilhas e em incêndios no meio da mata. Alguns equipamentos foram mostrados como o cambão, feito com um cano PVC de uma polegada de espessura e 1,20m de comprimento e uma corda de 3,5m. A corda é introduzida no cano formando uma espécie de alça que sustentará o animal para ser recolhido, e o abafador feito com um cabo de enxada, mangueiras de incêndio, pregos e arames, que pode ser utilizado em caso de queimada no estágio inicial. Ação de Educação Ambiental No dia 05 de outubro de 2021, realizou-se uma palestra voltada para a questão de Educação Ambiental apresentada pelo Bombeiro Civil Alexandre Queiroz na escola onde os autores estudam, o Culto à Ciência, dentre os assuntos abordados, se deu ênfase no resgate de animais silvestres no meio urbano, principalmente os gambás. Após a explicação foi aberto um espaço de relatos e perguntas para os alunos e ao final alguns deles se propuseram a demonstrar o que aprenderam sobre o manejo do cambão e das gatoeiras. Bosque Interativo A equipe foi convidada pelo coordenador do Bosque a participar de um evento chamado Bosque Interativo, o qual ocorre no último final de semana de cada mês na praça central do já citado parque. A visitação é gratuita e tem como objetivo mostrar de perto alguns animais para os munícipes e promover a educação ambiental com a ajuda de biólogos e veterinários. A participação no dia 27 e 28 de novembro de 2021 das 9 até as 16 horas, teve o papel de apresentar o projeto aos visitantes através de um banner e instruir as pessoas sobre a importância do conhecimento da fauna local presente no meio urbano para que não ocorra a perda de biodiversidade, causada pela falta de informação nos encontros com animais silvestres.

Dados

Notificação de animais silvestres em área urbana de Campinas


Temas

Inovação e Problemas da Sociedade, Cidades e Comunidades Sustentáveis

Palavras-chave

Educação ambiental, Urbanização, Polícia Ambiental, Parque Bosque dos Jequitibás

Equipe Ciêntifica

Claudia carla Caniati (Coordenador da Equipe)
Laura Ramos de Freitas (Professor Colaborador)
Lucas Galletta Dainez (Aluno Capitão)
Felipe Franco de Souza (Aluno)
Otávio de Sousa Duarte (Aluno)

Escola

Escola Estadual Culto a Ciência , Campinas-SP

Resumo

Com o aumento da urbanização na cidade de Campinas, considerada hoje uma metrópole, a presença de animais silvestres também aumentou consideravelmente. O município é constituído por vegetação remanescente da Mata Atlântica. Atualmente a cidade possui apenas 3% da mata original dividida em pequenos fragmentos, dentre os quais está o Parque Bosque dos Jequitibás, na região central da cidade, que abriga um pequeno zoológico. A questão norteadora, para a realização deste trabalho, partiu de uma entrevista com o médico veterinário coordenador do já referido parque. Durante a conversa, descobriu-se que, além de cuidar de animais em cativeiro, o zoológico atua também na reabilitação dos mesmos. O objetivo principal do projeto, então, passou a ser sistematizar e analisar as ocorrências de notificação de animais silvestres presentes na área urbana encaminhados ao Bosque dos Jequitibás pela Polícia Ambiental no período de 2015 a 2021 e os encaminhamentos realizados pelo parque que visa o bem-estar animal. Um banco de dados foi desenvolvido a partir das ocorrências registradas, estabelecendo padrões de composição (grupos taxonômicos), espécies mais recorrentes, diversidade de espécies, situações de apreensão ilegal e os destinos finais dos animais reabilitados. A compilação de tais dados presentes nos boletins de ocorrência foi feita em uma planilha a fim de que se possa estabelecer correlações entre eles, assim podendo realizar ações de educação ambiental e contribuir com a ODS 15. Resultados preliminares apontam a predominância de aves, sendo em sua maioria Psitacídeos (maritacas e papagaios), Passeriformes (andorinhas e bem-te-vis) e Strigiformes (corujas). Dentre os mamíferos, destacam-se os Didelfídeos (gambás). Através das ações de educação ambiental deverá ocorrer uma melhora no entendimento da população sobre situações de conflitos entre humanos e animais silvestres; demonstrou-se, ainda, o importante papel da Polícia Ambiental no resgate de animais silvestres, bem como o papel do Zoológico de atuar na reabilitação dos mesmos, já que o município, apesar de possuir mais de 1 milhão de habitantes, não conta um Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS).

Resultados

A primeira ação do estudo de campo foi uma entrevista com o Médico Veterinário coordenador do Parque Dr. Douglas Presotto, para se ter conhecimento de como era a atuação e procedimento do Município em relação a ocorrência de animais silvestres em área urbana e os encaminhamentos adotados. A composição taxonômica dos animais inseridos no banco de dados incluiu três classes: Mamíferos, Répteis e Aves (sua distribuição é apresentada no Gráfico 1), 12 ordens, 23 famílias e um total de 41 espécies de fauna silvestre, contendo 300 indivíduos (n=300) sendo 46 de aves (Tabela 1), 12 de mamíferos (Tabela 2) e 6 de répteis (Tabela 3). Alguns dados detalhados nas tabelas foram resumidos no gráfico 2 (explosão solar) para se ter uma visão geral dos animais silvestres cuja presença foi notificada para Polícia Ambiental, que por sua vez, encaminhou ao Parque Bosque dos Jequitibás no município de Campinas- SP. Na classe das aves, as ordens em maior destaque são os Psittaciformes (Maritacas, papagaios e araras) com 20,3%, Passeriformes (Bem-te-vi, coleirinho) com 17,0% e os Strigiformes (corujas) com 7,7%. Dentre os mamíferos a ordem Didelphimorphia mais conhecida como Gambás é a mais presente entre as porcentagens com 20,7%. E em seguida vem a ordem dos Primates como saguis e macacos-prego com 3,7%. Os répteis aparecem em maioria na ordem Testunidata com 6,0%, também chamados de Jabutis. A classe das aves apresenta 13 ordens e 50 espécies diferentes, o que indica a maior riqueza de espécies. Já os mamíferos possuem 6 ordens e 12 espécies distintas, porém ao analisar a riqueza de indivíduos, o Gambá-de-orelha-branca se sobressai diante de todas as outras espécies registradas. Por último encontram-se os répteis, com apenas 4 ordens e 6 espécies diferentes. Das ocorrências registradas, 44,7% dos animais foram reabilitados com sucesso e conseguiram ser reintroduzidos na natureza. Um problema encontrado foi que 8,9% dos dados não foram registrados qual foi o seu destino final. Alguns animais são encontrados com a saúde muito debilitada, o que levou 22% deles a óbito. 21,3% dos resgatados não foram possíveis serem reintroduzidos na natureza devido ao fato de terem ficado com alguma incapacidade permanente, a qual prejudicaria sua sobrevivência em seu habitat natural. Outros 2,7% representam a transferência para outras instituições após a reabilitação. Apenas 0,3% das ocorrências foram registradas de fuga do animal. Paralelamente ao trabalho de levantamento das Notificações de animais Silvestres encaminhado ao Bosque dos Jequitibás foi realizado um curso básico dos principais procedimentos a serem adotados no resgate de animais. Através dos dados tabulados, nota-se que 8,9% dos animais foram apreendidos por estarem em situação ilegal, são 89,7% não foram apreendidos pela polícia militar ambiental, apenas resgatados e encaminhados ao Bosque e 1,4% dos boletins de ocorrência não tinham registros sobre qual foi a situação.

Discussão dos Resultados

Durante a entrevista, Presotto enfatiza o impacto que os animais silvestres acarretam ao Bosque. “Os animais silvestres que aparecem em área urbana impactam o bosque de alguma forma e a presença deles geralmente gera conflitos com as pessoas. A ação antrópica por várias vezes ocorre de forma violenta contra os animais”. Após o atendimento e reabilitação do animal a prioridade de ação é a soltura, permanecendo em cativeiro apenas aqueles que não mais possuem condições físicas de retornar ao habitat natural. Os animais silvestres resgatados e encaminhados até o Parque Bosque dos Jequitibás são em sua maioria as aves, totalizando 64,5% (Gráfico 1) de todas as ocorrências analisadas, resultado semelhante ao obtido no levantamento realizado por Figueiredo 2019 (64%). Dados publicados pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (2013), descreve que grande parte da fauna urbana é constituída de aves que se adaptam melhor aos desafios do ambiente das cidades. Tal fato é explicado pelo fato dos pássaros se deslocarem mais facilmente pelo ar e usarem a estrutura das edificações para fazer ninhos. O grupo de répteis foi o terceiro em termos de riqueza de espécies, apenas 6, detendo um número muito menor de aparições com o total de 7,7% (Gráfico 1) dentre as classes sistematizadas. A arborização é característica indispensável quando o assunto é corujas no ambiente urbano. Apesar das “corujas da cidade” não estarem na lista de espécies ameaçadas, o risco é iminente. As cidades possuem vários perigos para as aves de forma geral. É muito comum ver corujas eletrocutadas nos fios, presas nas linhas de pipa e atropeladas em vias movimentadas. O hábito humano de planejar jardins e parques gramados com árvores e arvoretas em torno das edificações com as suas ruas iluminadas reúnem condições ecológicas e comportamentais bastante favoráveis para o estabelecimento dos sítios de nidificação das corujas (ADELINO, 2014). Ao ser analisado o gráfico que apresenta as informações das Famílias, concluiu-se que as que constavam mais indivíduos eram a Didelphidae, 20,7% e a Psittacidae, 20,4%. Além das espécies naturais de psitacídeos, como a tiriva (Pyrrhura frontalis), o periquito-rico, também conhecido como periquito-verdadeiro ou periquito-verde (Brotogeris tirica), Aratinga leucophthalma – periquitão ou maracanã, por exemplo, outras foram introduzidas de forma direta pela população humana, como os papagaios-verdadeiros, não típicos da fauna local. (FAUNA URBANA, 2013, 17 vol. 2 p.70) O gênero Didelphis, o qual pertence os gambás, obteve a maior porcentagem de aparições, com 20,7% das ocorrências. Comunicado do Centro de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo, 2019 (CRMV-SP), justifica que o grande número de gambás em áreas urbanas está relacionado com a degradação ambiental. Fora de seu habitat natural, em busca de alimentos, esses animais acabam adentrando nas casas e muitas vezes acabam sendo mortos por serem confundidos com ratos. Além disso muitos acidentes ocorrem devido a atropelamentos, acidentes em fios de energia elétrica e ataques de cachorros. Vale ressaltar a importância dos gambás para o ecossistema, como dispersores de sementes. Sua alimentação é bastante variada, são onívoros, podendo se alimentar de insetos, ovos, aracnídeos, répteis e até serpentes peçonhentas. Estudos têm sido realizados com relação as substâncias presentes em seu sangue que inibem o veneno de escorpiões e cobras, como jararacas, e corais, podendo gerar um novo soro que ajude no tratamento de acidentes com estes animais. Além de contribuir no controle de espécies consideradas pragas na agricultura, como insetos e roedores, também são responsáveis pelo controle da população de carrapatos, que transmitem inúmeras doenças tanto para animais quanto para os seres humanos. (FRANCA, 2020) Há na Mata Atlântica uma grande variedade de espécies de mamíferos, répteis e aves, dos quais pode-se citar os gambás, maritacas e jabutis. A maritaca foi a detentora da maior porcentagem de aparições nos boletins de ocorrência analisados, com 14,0%. Elas vivem geralmente em bandos e voam em bandos de 6 a 8 indivíduos, por vezes até de 50 aves, quando a comida é abundante. Emite vocalização muito similar à do papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). Alimenta-se de frutos e sementes da região. (FAUNA URBANA, 2013, 17 vol. 2 p.114) Dentre as espécies com mais destaque no banco de dados, o Gambá foi o animal com o maior índice de ocorrências com 20.8%, isso pode ser explicado pela sua facilidade de se adaptar no meio urbano. Em segundo lugar vem a maritaca com 14%, ela não detém o primeiro lugar pois já é tão comum a aparição delas na cidade que não são feitas tantas ocorrências como com os outros animais. Em sequência pode-se observar o Jabuti com 5,7%, o Coleirinho com 5%, o Marreco com 3%, o Carcará com 2,7%, o Tucano 2,3% e a Coruja-Orelhuda com 2,3%. Com a palestra realizada na escola Culto à Ciência foi possível observar que vários alunos se comoveram com o tema e participaram da mesma, sendo assim foi aberto um espaço para perguntas e relatos. Ao final, alguns deles se disponibilizaram para demonstrar o que aprenderam sobre os equipamentos de manuseio, utilizando o cambão e a gatoeira. Um dos resultados esperados ao final deste projeto é que com a realização das ações de educação ambiental obtenha-se uma melhoria do entendimento da população sobre situações de conflitos entre humanos e animais silvestres. Além disso, orientar as pessoas sobre como agir de forma que nenhuma das duas partes se prejudiquem; E, ainda, demonstrar o importante papel da Polícia Ambiental e dos bombeiros no resgate de animais silvestres, bem como a atuação do Zoológico na reabilitação dos mesmos.

Conclusões

Na entrevista com o Coordenador do Bosque percebeu-se uma intensa preocupação em relação ao bem-estar animal, preservação da fauna silvestre e a necessidade da sistematização dos boletins de ocorrência dos animais encaminhados pela Polícia Ambiental. Surgiu, então, o principal objetivo deste projeto: criar um banco de dados que permitisse analisar essas ocorrências. O projeto encontra-se em andamento, já foram tabulados os dados de 2015 a 2021, em seguida pretende-se treinar os funcionários do Bosque para incluir os de 2022. Em relação ao banco de dados, foram aplicados filtros para obtenção de informações em relação aos seguintes quesitos: Dados dos animais por apreensão ilegal; frequência de classes (Répteis, aves e mamíferos); frequência da espécie; Pretende-se aplicar, ainda, filtros referentes a: frequência da sazonalidade (período seco e úmido); Distribuição espacial por bairros; Área urbana, agrícola, vegetação natural e cursos hídricos. O Brasil possui uma das mais ricas biodiversidades naturais do planeta. Em relação aos animais silvestres, esses apresentam importantes funções ecológicas no ambiente como dispersão de sementes e equilíbrio da cadeia alimentar, boa parte desses animais necessitam de assistência, pois são vítimas da urbanização e da ocupação humana. Proporcionar o retorno da fauna ao ambiente natural é a segurança de que essas funções ecológicas nunca acabem, sendo assim a maior parte dos municípios deveriam possuir os Centros de reabilitação de animais silvestres que são pouco conhecidos pela população e tem por objetivo receber os animais vitimados, prestando desde o atendimento veterinário, reabilitação e soltura até o monitoramento desses no ambiente natural. Contribuindo dessa forma com a ODS 15 que apresenta como escopo central a Vida Terrestre. Visando contribuir para o "bem-estar animal" no espaço urbano, deu-se início ao desenvolvimento de ações que promovam educação ambiental como uma palestra do bombeiro Alexandre Queiroz e os autores do projeto na escola em que estudam e a participação no Bosque Interativo que foi importante para apresentar o projeto ao público visitante e divulgar os resultados. Para que assim a população esteja mais preparada para ocorrências e encontros com animais silvestres em suas residências ou próximos a elas. Temos como ação numa 2ª fase organizar o banco de dados por georreferenciamento para que seja possível a análise de quais são os locais onde há aparições de animais mais frequentes, no entanto, observou-se que uma grande parte dos dados não apresentava o logradouro ou apresentava o endereço do Bosque ou da delegacia responsável pela ocorrência (36,3%), o que prejudicou o georreferenciamento, contudo acredita-se ser possível extrair informações como a sazonalidade de todos os dados. Está previsto também no planejamento da equipe a criação de redes sociais para a disseminação das informações obtidas com esta pesquisa.

Referências

ADELINO, José Ricardo Pires. Distribuição espacial dos ninhos de Athene cunicularia (coruja-buraqueira) e dinâmica de sua utilização. Botucatu, 2014. Disponível em: . Acesso em setembro/2021. AGÊNCIA BRASIL. Mais de 90% da população Brasileira viverão em cidades. Disponível em: . Acesso em junho/2021. DEAN, W. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. p.67 CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO (CRMV-SP). Comunicado de 04/10/2019. Gambá é espécie silvestre incidente em centros urbanos. Disponível em: . Acesso em dezembro/2021. FAUNA URBANA, 2013. Infraestrutura e Meio Ambiente. Cadernos de Educação Ambiental: Fauna Urbana 17, volumes 1 e 2. Disponível em: . Acesso em setembro/2021. FIGUEIREDO, Camila Silva, Padrões de interações entre humanos e animais silvestres no Rio de Janeiro, uma megacidade no hotspot de biodiversidade da Mata Atlântica, 2019. Disponível em: . Acesso em junho/2021 FRANCA, Gabriela Rocha. Waita Instituto de Pesquisa e Conservação. Importância Ecológica dos Gambás. Disponível em: https://waita.org/blog-waita/2020/08/13/importancia-ecologica-dos-gambas#:~:text=Eles%20tamb%C3%A9m%20s%C3%A3o%20respons%C3%A1veis%20pelo,comer%20mais%20de%204.000%20carrapatos!. Acesso em outubro/2021. MARQUES, Dimas - Fauna News. São Paulo terá o seu 15º centro de atendimento de Fauna. Disponível em: . Acesso em setembro/2021 MEIRELES, Rafael. Bosque dos Jequitibás, o mais antigo parque de Campinas. Disponível em: . Acesso em junho/2021 OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. ODS Brasil, disponível em: . Acesso em setembro/2021. PORTAL DO GOVERNO BRASILEIRO. Disponível em: . Acesso em setembro/2021. PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS: A cidade disponível em . Acesso em agosto 2021 PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS: Atrações Naturais - disponível em: . Acesso em julho/2021. RAMOS, Carolina Oliveira. Objetivos do Desenvolvimento Sustentável: a importância de uma agenda global para o futuro que queremos. Disponível em: . Acesso em setembro/2021. REVISTA CFMV. Zoológicos e a conservação da Biodiversidade. Brasília DF Ano XXII no 69 Abril a Junho 2016. da SILVA, Karen Natasha. Bosque dos Jequitibás, 100 anos de conservação ambiental, 2015. YOUSHIE, Paola. Estado de São Paulo terá o seu 15º Centro de atendimento de Fauna. Disponível em: . Acesso em agosto/2021.

Fotos Vídeos


Voltar