Introdução
Historicamente, no Brasil, o ensino de Física é feito de maneira tradicional, por meio de aulas expositivas, apoiadas unicamente no livro didático e com pouca presença de aulas experimentais que possam auxiliar na compreensão dos conceitos físicos envolvidos ou mesmo tornar o aluno parte integrante do processo de ensino e aprendizagem [01]. A grande dificuldade de mudar o paradigma de um ensino tradicional para um ensino mais participativo se deve ao fato de termos no país uma baixa formação docente em metodologias alternativas de ensino [02, 03]. Podemos citar, ainda, como fator adicional, a inexistência de laboratórios de ensino de Física em boa parte das escolas públicas, como apontam estudos [04].
Nas últimas décadas, foram instituídas políticas públicas visando a melhoria na qualidade do ensino e a adoção de metodologias mais participativas que pudessem alterar a prática pedagógica vigente, tais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDBEN [05] e os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio-PCNEM [05]. Podemos, ainda, enfatizar a iniciativa da Sociedade Brasileira de Física (SBF) com a criação do Programa Nacional de Mestrado Profissional em Ensino de Física (MNPEF).
Métodos
O MNPEF é um programa de ampla abrangência, contendo atualmente 63 polos espalhados por todo o território nacional que vêm contribuindo para a melhoria da formação docente. Casanova, S.S & Zara, R. A. [06] apontam em seu estudo que uma média de 47% dos trabalhos defendidos no programa, no período 2015-2018, são de cunho experimental, sendo estes a maioria dos trabalhos defendidos pelo Programa. Sabendo que os alunos do MNPEF são docentes em atividade na rede básica de Ensino, a partir desse resultado, podemos inferir que existe uma carência que gera uma demanda da Rede Básica pela criação e produção de experimentos de baixo custo, o que pode refletir na falta de laboratórios adequados nessas escolas. Podemos ressaltar, ainda, que há um consenso entre os professores da rede básica sobre a importância da atividade experimental no processo de ensino e aprendizagem de seus alunos.
No intuito de resolver esse paradigma, as escolas particulares passaram a contemplar, em seus currículos, aulas de laboratórios de Física, sendo estes muitas vezes dotados de vários equipamentos que abrangem conteúdos ministrados desde o Ensino Fundamental – anos finais, até a terceira série do Ensino Médio. Todavia, as escolas públicas não conseguiram acompanhar o ritmo das escolas particulares, não dispondo, em sua maioria, de laboratórios de Física. Para além da falta de laboratório, não é difícil encontrarmos escolas públicas que, mesmo dispondo de laboratórios, não possuem um corpo docente ou técnico capacitado a utilizar os equipamentos que, nessas situações, acabam sendo subutilizados.
Em 2020, com a pandemia da COVID-19, houve uma brusca mudança de realidade no mundo que impactou diretamente as atividades de ensino. As aulas em todo o país foram inicialmente canceladas e, posteriormente, cada estado teve que decidir sobre suas respectivas políticas educacionais mediante uma crise sanitária mundial. Professores tiveram que se adaptar rapidamente à nova realidade do ensino remoto e ao ensino híbrido (em que parte das aulas é on-line e parte é presencial) em algumas situações. Superada a dificuldade inicial de aprendizado das ferramentas de teletrabalho por parte dos professores, um ano depois, ainda temos um problema: a impossibilidade de realizar, de forma contínua, atividades de cunho experimental.
A falta de acesso ao ambiente do laboratório de Física e ao formato de aulas remotas privilegia aulas expositivas em detrimento de aulas experimentais, tornando ainda mais difícil a adoção de metodologias mais participativas e alternativas à metodologia tradicional de ensino.
Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta de uso de um minilaboratório, um conjunto de materiais acessíveis e um kit, que permite a execução de diferentes experimentos de física, que propiciará o estudo dos conceitos de indução eletromagnética. A ideia é que tais conceitos possam ser aprendidos pelos alunos a partir da execução de experimentos sobre o assunto e consequente discussão em sala. Nessa proposta, é dada maior ênfase às aulas interativas, inspiradas na metodologia ISLE “Investigative Science Learning Environment”.