Introdução
O projeto “Casa Lavoisier: Na bioconstrução nada se perde, tudo se transforma” nasceu da busca pelo conhecimento dos estudantes da segunda série da escola estadual, de período integral, Educador Pedro Cia com o objetivo colocar em prática o conhecimento adquirido nos componentes curriculares Recursos Sustentáveis e Hábitos sustentáveis, os quais pertencem ao aprofundamento Meu papel do desenvolvimento Sustentável.
Durante nossos estudos, compreendemos que ao idealizarmos uma casa sustentável se faz necessário escolhermos recursos que traga benefícios para além da reutilização de materiais; é preciso analisar, também, a funcionalidade desta casa, de modo que esta, por exemplo, reduza o uso recursos como energia e água.
Utilizando a bioconstrução como técnica norteadora do nosso projeto, tomamos a decisão de utilizarmos garrafas de vidro para substituição dos tijolos convencionais, para construção das paredes. A decisão veio a partir da observação dos estudantes no entorno da escola estadual Educador Pedro Cia, onde foi constatado que havia grande volume de descarte de garrafas de vidro de forma incorreta, material este que demora, no mínimo, 4000 anos para se decompor na natureza. Considerando a localização onde a escola está situada, uma região de manancial, cercada de Mata Atlântica e de vulnerabilidade social, concluímos que a bioconstrução vem ao encontro dos nossos objetivos, dado que é uma técnica de construção que tem a sustentabilidade como foco, propondo a utilização de materiais capazes de promoverem menor impacto ambiental, analisando a vida útil dos materiais desde sua extração, até seu descarte final. O uso de materiais presentes no local da construção é uma das premissas desta forma de construção, que incluem sempre criatividade ao utilizar técnicas simples de construção, sendo muitas vezes denominadas de autoconstrução, por não serem necessariamente produzida por um profissional de arquitetura. O produto final da bioconstrução é uma habitação de custo reduzido e com conforto térmico.
Além do conforto térmico e do custo reduzido, a bioconstrução também gera outras vantagens como gestão de resíduos, uso passivo de recursos naturais (como ventilação cruzada e uso da luminosidade do dia), otimização do uso de energia, uso de conhecimentos locais, preservação do meio ambiente, durabilidade.
A casa Lavoisier vem com a proposta de encontrarmos um destino para garrafas de vidro descartadas de modo inadequado, ao mesmo tempo que demonstra um caminho para uns dos problemas sociais que temos em nossa sociedade, a falta de moradia. Para tanto, compreender a composição do vidro e o processo de produção se faz necessária para que possamos melhor perceber a necessidade de encontrarmos um melhor destino a um produto que para ser produzido já retirou muitos recursos da natureza gerando além dos impactos ambientais, impactos sobre a saúde humana.
O vidro é produzido a partir de minerais naturais, tendo como base a sílica fornecida pela areia, depositada ao longo do tempo devido à erosão, e ainda por cálcio, magnésio e alumina, obtidas de rochas, que precisam passar por explosões e moagem até que os grãos estejam no diâmetro correto para a utilização.
Ao tomarmos o vidro como principal recurso em nossa construção, acabamos, por conseguinte trazendo para o ambiente um material de resistência térmica, além da luminosidade natural, pois este é um material apresenta como condutividade térmica 1Wm/k (Watt por metro-kelvin), o que significa que é um péssimo condutor de calor e um ótimo isolante térmico, garantindo que a temperatura interna do ambiente se mantenha mais estável. Para efeito comparativo, podemos observar a condutividade térmica de materiais como cobre e alumínio, por exemplo, que apresentam condutividade de 401 W/m.K e 237 W/m.K, respectivamente, para que possamos ter uma ideia mais clara de quão mau condutor térmico é o vidro. Por apresentar tal característica, ao aquecer um dos lados de uma garrafa, o calor leva certo tempo até atravessar a espessura e aquecer a outra face, pois o vidro oferece resistência à passagem do calor. Ao utilizarmos garrafas coloridas também podemos contar com os óxidos metálicos que são incorporados à sua massa durante a sua produção, com o objetivo de conferir a coloração. Dentre os óxidos metálicos utilizados, podemos destacar os de ferro, selênio, cromo, cobalto, oferecendo cores como verde claro, rosa, verde escuro, azul, respectivamente, ou ainda quando são misturados oferecendo as cores cinza ou fumê (ferro, selênio e cobalto). Ao incidir radiações sobre o vidro, parte desta é refletida, parte é absorvida e outra parte é transmitida. Os metais contidos nos óxidos ao interagir com a luz, filtra determinadas radiações indesejáveis, como as ultravioletas e infravermelho evitando desta forma o aquecimento interno do ambiente, proporcionando conforto térmico e economia de energia com gastos devido a utilização de ar condicionado e luz elétrica, já que apesar da presença dos óxidos que fornecem cores ao vidro, permite a incidência de uma parte de luz, diminuindo o tempo de luzes acesas dentro do ambiente ao longo do dia.
Ao desenvolvermos a planta da casa também se planejou a posição das janelas e portas de modo que a passagem de ar seja facilitada, mantendo um ambiente arejado sem a necessidade de aparelhos elétricos como ventiladores, ar condicionado ou climatizadores de ar, o que propõe economia em custos, inclusive ambientais, uma vez que em tempos de altas temperaturas também enfrentamos esvaziamentos das reservas das usinas hidrelétricas, gerando custos ambientais devido ao uso das usinas termoelétricas, as quais funcionam à base da combustão de carvão mineral, por exemplo, gerando ainda mais gases de efeito estufa para o planeta, promovendo aquecimento global e por conseguinte, alterações climáticas, dentre outras questões.