Há décadas os temas pertinentes a sustentabilidade do meio ambiente se tornaram mais evidentes, abordando questões relacionadas aos problemas de preservação ambiental. Uma das problemáticas relacionadas a gestão de resíduos sólidos é o descarte incorreto de lixo orgânico que parte da população faz de forma incorreta, além disso, a ausência de políticas públicas relacionadas a esse processo de reaproveitamento de lixo contribui para que a população não tome ciência da importância do processo (Costa, 2015). De todo o lixo produzido no Brasil, um pouco mais da metade é lixo orgânico (restos de frutas, legumes, verduras, cascas de ovos e pó de café). Em 2020 foram produzidas 82,5 milhões de toneladas de resíduos sólidos de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe, 2021) Os lixos produzidos no Brasil são despejados em aterros sanitários, junto com outros tipos de resíduos, o que acarreta em diversos problemas como atrair animais transmissores de doenças como por exemplo: moscas, ratos e pombos (Da Silva, 2019). Resíduos oriundos do lixo orgânico geram um liquido chamado de chorume, que quando em contato com metais contidos em aparelhos eletrônicos como por exemplo pilhas, torna-se altamente tóxico e poluente para o solo e para a água (Cruz, 2019; De Matos, 2020). Além serem geradores do gás metano, um dos principais gases causadores do efeito estufa (Alves, 2022). Uma solução para sanar o problema de destinação correta do resíduo solido é a compostagem. A compostagem é um processo natural em que microrganismos, como bactérias e fungos, transformam o lixo orgânico em adubo, que é um material rico em nutrientes saudáveis ao crescimento e desenvolvimento de plantas (Silva, 2022). A composteira pode ser feita em casa de forma simples, utilizando recipientes nos quais serão depositados terra, serragem e matéria orgânica. Nestes recipientes podem ou não conter minhocas que auxiliam na mistura dos nutrientes (Vasconcelos, 2021). Ao longo do processo de compostagem é gerado um liquido chamado chorume que não deve ser acumulado junto ao material em decomposição, pois pode prejudicar o processo devido à falta de circulação de oxigênio (Leite, 2021). Por isso é importante que existe um recipiente destinado a coleta do chorume, que posteriormente se diluído em água pode ser utilizado na adubação de plantas (Borges, 2018). Um benefício de se ter uma composteira em casa é contribuir para a adubação de descarte de resíduos orgânicos em aterros sanitários, diminuindo os impactos ambientais, além de reduzir a proliferação de transmissores de doenças (De Sales, 2021).O descarte incorreto desses resíduos alimentícios sem tratamento no meio ambiente pode prejudicar o ecossistema e consequentemente a saúde humana, pois estes resíduos podem contaminar o solo, a água e o ar, e os alimentos consumidos são provenientes do solo, como verduras, frutas, legumes, entre outros (Gomes et al.,2012). Diante disso, nota-se a importância de se reaproveitar esses resíduos orgânicos, a fim de se reduzir o impacto no meio ambiente e ajudando essa questão humanitária. Uma opção sustentável e viável financeiramente é trabalhar com a compostagem orgânica reutilizando esses resíduos (Costa, 2015). Os resíduos podem ser transformados em húmus de minhocas e utilizados como adubo orgânico nas hortas e jardins, na própria residência (Foschiera, 2019). Além da produção de húmus é gerado o chorume que é um produto secundário da compostagem, é um produto líquido, aquoso, de alta carga orgânica de micro e macronutrientes, que pode ser utilizado para a rega de plantas e até em cultivos hidropônicos (Coelho, 2017). O cultivo hidropônico é uma técnica de cultivo que não tem o solo como meio de sustentação nutricional e física para as plantas. Toda água e nutrientes essenciais ao desenvolvimento vegetal são aplicados diretamente no sistema radicular das plantas na forma de uma solução nutritiva balanceada, permitindo assim o uso da irrigação e nutrição mais precisas e mais vantajosas (Testezlaf, 2017). Esse sistema utiliza uma solução nutritiva que resulta em uma maior eficiência no uso da água e de nutrientes e ainda permite a produção de alimentos de melhor qualidade e vida pós-colheita (Barbosa et al., 2003). A água é um bem cada vez mais escasso, tanto devido a problemas de contaminação ou degradação ambiental, quanto pelo desperdício principalmente na agricultura irrigada, sendo este o setor de maior consumo de água doce no planeta. A quantidade de água e nutrientes a serem fornecidos para as plantas via fertirrigação, tem sido objeto de pesquisa de vários trabalhos referentes ao manejo devido à sua importância econômica e ambiental (Bortolozzo et al., 2007; Oliveira, 2012; Chow et al., 2009; Das et al., 2012). O uso da fertirrigação em sistemas hidropônicos apresenta maior estabilidade na produção e atendimento das demandas nutricionais das plantas (Da Silva et al., 2017). Dado o exposto, torna-se necessário o desenvolvimento de novas tecnologias relacionadas à redução no uso de insumos agrícolas como adubos e defensivos, bem como no uso adequado da água. Então o projeto tem por objetivo verificar a utilização de um sistema agropecuário ecologicamente e economicamente sustentável, visando o reaproveitamento de alimentos provenientes da confecção da merenda escolar, além de contribuir positivamente no ensino de educação ambiental e conscientização dos estudantes e da comunidade escolar.
2. Materiais e métodos O projeto foi executado na Escola Estadual Modestino Andrade Sobrinho, Sete Lagoas, MG, 19º28’30”S, 44º15’08”W e 732 m de altitude. 2.1 Compostagem Os resíduos sólidos orgânicos utilizados no processo de compostagem foram oriundos da produção da merenda escolar. A montagem seguiu metodologia descrita por Gomes (2021), onde se utiliza três baldes para a construção da composteira (Figura 1), sendo o primeiro balde se localizando na base do sistema identificado como balde 3, na sua lateral inferior foi feito um furo para a inserção de uma torneira, para a retirada do chorume produzido na compostagem; A parte central da tampa foi removida com auxílio de um estilete, deixando as bordas para servir de apoio para o balde de cima. O segundo balde identificado como balde 2, compôs o meio do sistema, com o auxílio de uma furadeira e broca de 4mm foram realizados furos no fundo do mesmo afim de proporcionar a passagem do chorume; em sua lateral superior foram feitos furos com broca de 1,5mm para facilitar a passagem de ar, com o auxílio de um estilete o meio da tampa foi removido para servir com apoio do próximo balde. O terceiro balde nomeado de balde 1 foi furado como o segundo. A tampa permaneceu intacta para vedação do sistema. Após montagem da composteira foram feitas camadas de serragem, folhas secas, minhocas californianas e os resíduos oriundos da merenda escolar, até completar o volume total do balde. Semanalmente os materiais eram revolvidos com auxílios de uma pá de jardinagem até que todos os alimentos fossem decompostos. A compostagem leva de 4 a 6 semanas, dependendo do material orgânico utilizado, das condições ambientais. 2.2 Sistema hidropônico O sistema hidropônico do tipo NFT (Fluxo Laminar de Nutrientes) continha 4 perfis de cano PVC procedentes de uma sobra da reforma da escola de 1 m de comprimento e espessura 100 mm, com espaçamento de 18 cm entre canais, 20 cm entre os furos (6,9 cm de diâmetro) de cultivo. Os perfis eram abastecidos por um reservatório plástico de 50 litros, conectado a uma bomba submersa (Sarli Better) de 13 Watts e vazão de 400 a 1000 L/h. O biofertilizante utilizado foi oriundo do processo de compostagem (chorume), onde a solução foi preparada na proporção 1:10 (para cada parte de chorume foram acrescidas 10 de água). O sistema foi montado em uma área de sol pleno e boa circulação de ar.
Cidades e Comunidades Sustentáveis
Compostagem, Sistema hidropônico, Orgânico, nutrientes
Guilherme Souza de Avellar (Coordenador da Equipe)
José Ibrahim El- Corab Neto (Professor Colaborador)
Clara Helena da Cruz Silva (Professor Colaborador)
Arthur dos Reis Benfica (Aluno Capitão)
Nicolas Henrique Campolina (Aluno)
Ingrid Silva de Oliveira (Aluno)
Angelina Diniz Oliveira Martins (Aluno)
Escola Estadual Modestino Andrade Sobrinho, Sete Lagoas-MG
Resumo: O total de alimentos produzidos no mundo é cerca de 3,8 bilhões de toneladas por ano. O Brasil é o terceiro maior produtor de alimento mundial com cerca de 353 milhões de alimentos por ano. Esse lixo quando descartado de forma incorreta e em contato com outros elementos podem ser geradores de gases como de efeito estufa como o gás metano. Pensando em um descarte ecologicamente correto e sustentável este trabalho tem por objetivo verificar a eficiência de um sistema de compostagem dentro do ambiente escolar, visando reutilizar resíduos sólidos oriundos da merenda escolar, e ainda utilizar os seus produtos como o adubo na horta e o chorume em um sistema hidropônico para a nutrição e produção de hortaliças para a confecção de merenda escolar mais saudável e livre de insumos químicos. Foi possível verificar que tanto o sistema de compostagem como o sistema hidropônico são sistemas viáveis se ter dentro do ambiente escolar, por serem ecologicamente sustentáveis e serem instrumentos no ensino de educação ambiental, além de interligar diversas áreas de conhecimento fazendo com que os se sintam mais motivados e interessados com o ensino. E que é possível fazer a reciclagem dos restos de alimentos da confecção da merenda escolar de forma correta e dentro da própria escola.
Durante o processo de idealização até a obtenção dos produtos finais do projeto foi apresentado aos alunos a problemática existente decorrente do descarte inadequado de resíduos sólidos, onde foi possível o levantar questionamentos referentes aos impactos ambientais da atualidade, mostrando a importância da reflexão sobre as alternativas existentes para sanar problemas ambientais voltadas para a sustentabilidade do ecossistema. Outro ponto importante, foi a busca por utilização de todos os produtos gerados da compostagem como o chorume. O chorume foi o responsável pelo desenvolvimento da segunda parte do projeto, pois era gerado uma grande quantidade e não tinha uma destinação para tal quantidade. A montagem do sistema de compostagem se mostrou eficiente e de fácil manuseio pelos alunos, além de ser de fácil reprodução. Sendo um instrumento economicamente e ecologicamente mais viável podendo auxiliar a comunidade dar um destino correto a produção de lixo doméstico. A compostagem foi capaz de produzir dois produtos o adubo (húmus) que foi utilizado na horta da escola e o chorume que foi utilizado no sistema hidropônico, outro fator importante que deve ser considerado, é que além de ser utilizado como estratégia de ensino, as hortaliças cultivadas na horta e no sistema hidropônico ainda serão incorporadas na merenda escolar, agregando significativamente na nutrição dos alunos e professores. O sistema hidropônico, foi uma alternativa pensada para se dar uma destinação ao chorume, pois é um liquido rico em nutrientes. Além disso, a implantação da horta hidropônica na escola serviu para promover o ensino interdisciplinar, aos alunos do 1º ano do Ensino Médio Técnico em Agronegócio, aprendendo conceitos fundamentais voltados a tecnologias aplicadas a sustentabilidade do agroecossistema.
A utilização de materiais plásticos em ambientes urbanos é uma pratica muito comum para realização de compostagem de resíduos sólidos orgânicos, pois não exalam odores, além de possuírem baixo custo e poderem ser instalados em locais com pouco espaço (Pereira, 2016). Melo e Zanta (2016) montaram composteiras domesticas de 18 litros em conjuntos habitacionais do programa do governo federal “Minha Casa Minha Vida” em São Domingos – BA; foram utilizados restos vegetais, casca de ovo, e outros alimentos que não continham gorduras e nem carnes, misturados com serragem para início do processo de decomposição dos alimentos. Os autores afirmaram que o sistema teve um baixo custo (R$ 15,00) e ocupava um local de 40cm². Estes resultados são similares ao de nosso projeto, onde para a construção da composteira não obtivemos custo algum, pois todos os elementos utilizados na montagem tínhamos disponíveis na escola. A utilização de baldes plásticos é uma pratica muito comum na confecção de composteiras domesticas. Silva et al. (2019) e por Vasconcelos et al. (2020) em bairros distintos de São Luis reutilizando baldes como composteiras domésticas para resíduos alimentares de famílias. Brito et al. (2016) também ressaltaram o reuso de baldes como composteiras domésticas pelo fato de ser de fácil aquisição. Lacerda et al. (2020) fizeram uma comparação entre uma composteira doméstica comercial e outra alternativa reutilizando baldes plástico. A composteira comercial possuía três caixas empilháveis com capacidade para 161 litros e o modelo alternativo possuía três baldes sobrepostos com capacidade para 15 litros cada, em ambas foram utilizadas minhocas, resíduos orgânicos alimentares de domicílios e folhas de jardim compostados por 160 dias. Os autores afirmaram que a composteira alternativa foi mais econômica e sustentável em relação a composteira comercial. Garcia et al. (2016) fabricaram uma composteira doméstica em ambiente escolar, utilizando bombona plástica com capacidade para 250 litros de resíduos orgânicos da própria escola juntamente com solo e material seco, um recipiente de plástico com torneira posicionado na base da bombona para acolher o percolado proveniente da decomposição dos resíduos, inserção no centro da composteira de 1,5m de cano com 25mm de diâmetro para entrada de ar e telamento no fundo da bombona. O sistema hidropônico foi utilizado como uma estratégia didática e metodológica de ensino em agronegócio sustentável, pois esta metodologia permite mostrar a importância e a necessidade de entender os processos envolvidos no sistema de cultivo (Silva, 2019). O que mostra que a montagem deste sistema no ambiente escolar, fez com que os alunos despertassem interesse em entender como o sistema funcionava, então além de aprender sobre a técnica, tiveram a oportunidade de juntar conhecimentos acerca de produção sustável de alimentos, passando a ter opções de cultivos que visem a produção de produtos livres de produtos químicos.
Foi possível concluir a eficácia e a importância de utilização de diferentes alternativas de utilização de produtos originados da compostagem como o adubo e o chorume. Assim, sendo possível e viável a sua utilização para uma agricultura mais sustentável, livre da utilização de insumos químicos. A utilização tanto do sistema hidropônico quanto do sistema de compostagem como ferramenta de ensino se mostrou eficiente para os assuntos tratados dentro do curso técnico em agronegócio, dando mais possibilidades de aprendizagem aos alunos além de serem sistemas de fácil reprodução tornaram as aulas mais dinâmicas e participativas, facilitando a construção do conhecimento da turma.
ABRELPE, Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (2021). Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. Disponível em: